Bonecos de Estremoz em Tempo de Santos Populares

Data:  de 26 de Junho a 23 de Julho de 2016

Local: Galeria Aqui d’el Arte, Edifício CECHAP

Inauguração: 26 de Junho de 2016, às 17h00

A exposição “Bonecos de Estremoz em Tempo de Santos Populares” contou com a colaboração do Museu Municipal Prof. Joaquim Vermelho.

Os Santos Populares representados tradicionalmente no Figurado de Barro de Estremoz são o Santo António de Lisboa (13 de Junho) e o São João Baptista (24 de Junho). São Pedro (29 de Junho) nunca teve expressão na tradição bonequeira. Somente em finais do século XX, a figura foi modelada e muito por pressão de encomendas.

Quanto a Santo António (Fernando de Bulhões e Taveira), este desde sempre foi muito venerado em Estremoz, certamente porque os franciscanos (Frei António abandonou os cónegos regulares de Santo Agostinho e pediu o hábito franciscano), ordem muito ligada ao povo e presente neste espaço geográfico desde a segunda metade do século XIII, em muito incentivou o seu culto.

Para além, claro está, que a Coroa sempre estimulou o culto dos santos nacionais, como forma de afirmação do reino.

Este Santo está presente na toponímia local e no culto, sendo exemplo a Porta Militar de Santo António, o Convento de Santo António (extinto) com Igreja da mesma invocação e altar de Santo António na Igreja de São Francisco (tinha Irmandade).

Em 1758 estava também uma imagem ao culto na Igreja Matriz de Santa Maria.

Não é de admirar, pois, que seja a figura, a par de Nossa Senhora da Conceição, mais presente na barrística estremocense dos séculos XVII até à primeira metade do XIX. Mas porquê?

Para além, como já dissemos, de se incentivar o seu culto por ser santo português e pela acção franciscana, sempre foi alguém muito próximo das coisas próprias do povo.

Fosse, por exemplo, por se invocar o seu auxílio para o conserto dos cântaros quebrados, fosse para arranjar bom casamento, fosse para resgatar as alminhas do purgatório, o povo sabia que tinha ali especial intercessor junto de nosso Senhor… Porém, coisas do povo de então, quando o Santo não atendia aos pedidos, as casadoiras castigavam-no!

Ou lhe escondiam o Menino (no Boneco de Estremoz o Menino Jesus estava propositadamente solto, apenas seguro por um fio de arame que saía do livro), ou o ameaçavam que o jogavam num poço (ou lá ficava até a pessoa ser atendida), quando não o partiam mesmo aos pedaços num gesto que era um misto de fúria e desespero.

A figura de barro do Santo António no Boneco de Estremoz em pouco se distingue das suas congéneres em madeira ou pedra, a distinção acontece apenas na humildade da matéria-prima com que é produzido e na pintura com que se lhe dá cor.

O Boneco tradicional é representado com o hábito franciscano, segurando na sua mão esquerda um livro que atesta o atributo de Doutor da Igreja e em cima deste, sentado, o Menino Jesus, o qual evoca o episódio em que um nobre que o alojara em sua casa viu Frei António a conversar com o Menino.

Na mão direita segura um raminho de açucenas, sinal da sua pureza.

A atestar a dimensão do seu culto, as reservas museológicas do Museu Municipal Prof. Joaquim Vermelho, de Estremoz, estão repletas de figurinhas deste Santo e, pelos montes, em nichos, ainda se vão vendo alguns destes Santos António.

Como já indicámos, o outro Santo popular mais representado na barrística estremocense é São João Baptista, usualmente designado apenas por São João.

O Santo esteve muito bem representado na toponímia urbana de Estremoz. Até ao século XIX o maior terreiro local designava-se de “Rossio de São João”, sendo hoje “Rossio Marquês de Pombal”.

Tinha também o Convento de São João da Penitência (mais conhecido por Convento das Maltezas, extinto), com Igreja dessa invocação que ainda hoje se mantém ao culto, e estava representado em imagens/pinturas ou altares nas Igrejas de Santiago, Matriz de Santa Maria, Igreja do Anjo da Guarda e Capela de Nossa Senhora do Socorro (ou São Brás).

Hoje mantém apenas um altar na Matriz e na Igreja do antigo Convento das Maltezas.

O Boneco tradicional que representa São João apresenta-se vestido com peles de animais (pele de camelo atada com rude cinto de coro) e um cordeiro apoiado nas patas traseiras (evocação de que foi este quem anunciou a chegada do Cordeiro de Deus), junto da sua perna direita.

Apoia-se ou numa bandeira ou numa Cruz.

Há peças que apresentam ainda plantas muito altas (arames com flores e folhas em barro) detrás do Santo, representação da sua condição de Eremita.

Contudo, apesar de ser um dos Santos populares mais modelados, não se compara a Santo António em termos de representação quantitativa.

Por fim, temos São Pedro. Vestígios da presença do seu culto em Estremoz são ainda hoje visíveis na Matriz (duas imagens) e no topónimo de uma pequena rua.

Teve também Ermida nos arrabaldes (também designada por Nossa Senhora da Cabeça), a qual está presentemente muito arruinada (a imagem que aí estava para veneração encontra-se hoje na Matriz).

Tinha também imagem ao culto em 1758, na Igreja do Anjo da Guarda (que se intitulou de São Pedro, provavelmente quando dela se apropriou a Irmandade dos Clérigos de São Pedro) e hoje ainda ali estão expostos painéis de azulejos que contam a vida deste Santo.

Como já indicámos, esse Santo nunca foi modelado até à segunda metade do século XX.

Actualmente, e somente por encomenda, as barristas produzem uma figura evocativa de São Pedro.

Como se verificou, a tradição bonequeira é rica na representação de Santo António e São João.

E tal não é de admirar.

Se a barrística de Estremoz nasceu para satisfazer as necessidades espirituais das camadas populares, que não tinham os meios para adquirir peças em madeira ou pedra para prestarem culto caseiro aos Santos da sua devoção, é natural que as encomendas das típicas figurinhas de barro local demonstrem inequivocamente os Santos pelos quais o povo tinha mais afeição: Santo António e São João! 

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